Sunday, October 08, 2006

Gia

Gia.
Apaixonei-me por ela. No fim de mais um domingo cinzento, deitada de bruços, esperando algum vestígio de insônia, eu observava a TV distraidamente. Mudando os canais a cada dois segundos, juntando os pés para tentar amenizar o frio, que mesmo embaixo do cobertor, ainda conseguia sentir. De repente, ela surgiu. Ela não – Gia surgiu. Apareceu como um presente, uma festa surpresa, simplesmente Gia. Assim a dona Insônia sentou-se ao meu lado com uma tigela de quindins. Partilhou comigo o nascimento daquela paixão fugaz.
Gia era linda, quase perfeita. Só não o era, porque não era minha. Seus lábios eram o meu pecado, seu sorriso o meu paraíso. O corpo um verdadeiro deleite. Hiperativa, impertinente, doce, impulsiva, assassina, perdida. Gia amou, derramou, fechou os olhos, visitou o inferno e quase não voltou. Viciou-me. Sim, viciou-me em seus gestos, em sua voz, em seu sexo, em sua vida. Enquanto me hipnotizou pelas próximas horas, dona Insônia espalhou-se na cama, deitou no meu colo.
Como quem acorda de um pesadelo, Gia se foi sem que pudesse perceber. Dona Insônia já até roncava, enquanto meus olhos não queriam se fechar. Recusavam-se a esquecê-la , pois não era qualquer uma. Era Gia. A noite passou, o sol escancarou as cortinas com vigor, mas a única luz que eu via era dela.


Stravinska
11h47
03/05/05

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