Monday, October 02, 2006

Continuei

Havia quem dissesse que ela era moça de negócios excusos. Janelas fechadas, porta trancada, silêncio. Era o único apartamento que talvez não combinasse com o aspecto familiar daquela rua. Saía poucas vezes, com roupas um tanto parecidas e uma bolsa ou outra - vermelha ou verde. O caminho da ida era o caminho da volta, o cabelo de hoje era o cabelo de amanhã, o tênis de sola baixa também. A mesmice se apoderara até dos menores movimentos e todos sabiam. E esta coisa de todo dia intrigava quem tinha o mesmo mal, ainda que a espécie fosse diferente. Essa moça das mesmas-coisas-diariamente só podia estar escondendo algo. Ninguém é tão parecido assim todo dia, o dia todo.
Ela tentava achar algo obscuro quando mais nada tinha a fazer. Pensava, pensava. Algumas vezes descobria que nunca teve nada mais a fazer, pois nunca teve algo para de fato começar. Desejava um amor, mas no instante seguinte não mais; dava trabalho amar. Queria roupas novas, porém no instante seguinte não mais; lembrava que novidades assim nunca lhe proporcionavam verdadeira satisfação. Não tinha um negócio excuso, não era assim. Besteira procurar algo que não existe. É que quando se está sozinho inventa-se companhia, já ouvira alguém dizer certa vez. Se houvesse algo obscuro por ali, era a solidão terna dela.

2 comments:

Anonymous said...

quem ela é???

Anonymous said...

eu que disse!!! \^^/