Friday, March 31, 2006

Prada

Arrumei tudo, combinando suas tangerinas com limões frescos, a prataria da bisa com a porcelana da vó francesa, estendendo a toalha vermelho-xadrez, assando o peixe no horário em que o sol namora com as marés. Vesti o linho estampado, calçei as sandálias rasteiras, fechei os livros de Álvares.
Is it love or is it hate?
Embalei os lírios na brisa, cerrei os olhos e cresci na vontade de ser para sempre. Corri até a margem, sentei no fim e quis saber. Esperando você chegar.
Toquei nas lembranças com mãos de mãe, assoprei o que estava em desalinho, silenciei.
Limpei as cadeiras, escolhi o melhor dos planaltos. Recortei suas palavras e colei lá.
Para lhe esperar.
Mas você me fez cansar, deixou meu querer empoeirado numa caixa de marfim, alimentou meus sonhos irrealizáveis, trapaceou na ciranda menor. Então, acabou-se. Esclerosou-se o tempo, atrofiou-se o espaço. Dormis vós que já é tarde.

Friday, March 24, 2006

C'Mere


Apagando as luzes, acendendo uma brasa longínqua de qualquer Lucky Strike achado no caos do seu mundo, sentando como um fracasso personificado, encostando a têmpora em tão dolorosos joelhos, observando o breu. É assim que você me seduz. Suspirando pesarosamente, com ar de quem desta vida nada mais teme nem espera. Batendo metodicamente os pés no chão de ardósia, este quase congelado pelo inverno da madrugada, apoiando-se no móvel que ainda cheira ao depósito de onde saiu. Então, você me fascina.
Ouvindo o silêncio terno do quarto vazio, você não ousa falar, pois não quer despertar suas ilusões. Mexendo os dedos intimamente sufocados pela presença do mesmo par de tênis nos últimos três anos. O que é muito tempo, o que pode ser cedo ou tarde demais, o que é porque tem de ser. Fechando os olhos ingênuos e vacilantes por dois segundos, fazendo percorrer um calor tênue desde quando resolveu nascer até a última ponta dupla do cabelo deste exato momento. Você me orgulha.
Contemplando o céu, apenas encaixando o queixo no dorso da mão, não ligando para a fumaça inebriante da brasa que você esqueceu, rebuscando uma imagem das pessoas que mais amou, deixando um leve sorriso e uma lágrima escaparem dos seus desejos. Conquista-me. Pesando prós e contras, batalhas e calmarias, vontades e sonhos, conquistas e hesitações, eu me calo.
Lembrando que o tempo não pára, que até as brasas se apagam – e por quê não as estrelas? –, que a escuridão é uma questão de escolha, pois foi você quem apagou as luzes, levanta-se furtivamente, sentindo os pés e os poros mais que nunca, caminhando levianamente para um lugar que você não quer imaginar. Só chegar.
Que insólito! Apaixonei-me por mim.

Thursday, March 23, 2006

Que é que tu quer, maracajá cara de gato??

Blog pra escrever.
Blog pra ler.
Blog pra dizer "hello" e esperar o eco.