Thursday, October 21, 2010

Lapsos

SEXTA-FEIRA. NOITE. RESTAURANTE.

- Eu sou como um copo de Coca-Cola.
- Sério?
- Eu poderia tentar explicar, mas..
- Tenta, por favor.
- Sou irresistível, popular, saborosa..
- Hahaha!
- O quê? É sério. Depois de "degustada", ninguém consegue viver sem mim.
- E quem não gosta de Coca?
- Vai ter câncer porque só bebeu Fanta. (risos)
(pausa)
- (risos) Não acredito que tu disseste isso.
- Nem eu. (risos)
- Eu realmente não acredito! (risos) [Tom mais baixo] Pena que eu não bebo Coca.
- O que? Não ouvi.
- Nada. Besteira.

Sunday, September 26, 2010

SEQUÊNCIA 1

1. CORREDOR/APARTAMENTO - INTERNA - DIA

Barulho do elevador se abrindo, para depois ELA surgir caminhando pelo corredor. Chega à porta do apartamento, abre, entra e segue até o quarto (janelas abertas). Larga a bolsa em cima da cama, pega um cigarro, caminha até o outro quarto (janelas abertas). Pára de frente para a janela, observa a cidade. Durante esta sequência de entrada se escuta a voz em off de uma mulher dizendo o seguinte:


Não quero mais. Não posso mais. Eu até gosto de você,
mas a gente não dá mais certo. Preciso reavaliar as coisas, preciso de 
um tempo pra pensar e preciso estar sozinha.


Assim que a voz silencia, ELA ainda observa a paisagem, mas fecha os olhos lentamente. Logo depois um contracampo num plano geral mostra ELA e a cidade no fundo.


2. QUARTO - INTERNA - DIA

ELA está deitada na cama, meio coberta. O quarto está na penumbra, mas já é manhã (cedo provavelmente). Abre os olhos sonolenta e olha para a janela. Fica com o olhar fixo, mexendo a boca, experimentando o gosto do mau hálito matinal. Depois de uns instantes imóvel, dá um suspiro e se senta. Permanece em silêncio enquanto escuta o barulho que vem lá de fora (carros, avião, etc). 

3. QUARTO - INTERNA - DIA - FLASHBACK

ELA e ELLA estão deitadas, acabaram de acordar. Se abraçam enquanto se beijam sutilmente e dão "bom dia". Planos detalhe.

4. QUARTO - INTERNA - DIA

ELA continua sentada olhando para a pouca luz que entra pela janela. As lembranças sempre lhe trazem um aperto, uma angústia daquele tipo que às vezes só o cigarro alivia.



Friday, August 20, 2010

Melhor remédio que levar o cigarro à boca e daí para um apoio, é ouvir a voz dela. Uma vez ao dia, no mínimo. Sempre foi a solução para a fadiga, para a insatisfação, para o delírio de cada hora. Porque o "beijo" dela chia de um jeito que acorda a minha preguiça. Estou completamente errada em precisar disto, eu sei, mas é que suas palavras são infalíveis e se desfazem mesmo no ar - depois explodem em mim. Então não guardo nada. 

Nisso eu desaprendi o que é certo ou relativo. Errado nunca existe no que diz respeito a nós, porque continuo cega e manca. O amor sempre me deixa assim; ele pesa. Não é doce, nem maravilhoso. É inesquecível e por isso me maltrata. Sua voz não tem só me acordado, mas me empurrado para qualquer lugar, qualquer um longe dela. Quanto mais eu sou expulsa, mais quero permanecer e solidificar. Nem ouse pensar que é outra coisa além de pura burrice. 

Ela manda sinais equívocos e pego todos como se fossem pra mim. Claro que nada é compreensível, restando apenas sentar e chorar. A redenção que procuro nas lágrimas nunca vem. Esperança é isso:  esperar ansiosamente pelo desconhecido e inexistente. 

Acendo mais um cigarro e aguardo ela encontrar o amor. Aqui. Vou esperar que ela se sente e repouse seus dramas no meu ombro, para que então eu possa abraçá-la e dizer que tudo bem, é assim que vamos ficar. 

Wednesday, August 18, 2010

A tristeza me dá saudade dos pesadelos. Desde que essa mulher chegou, a minha vida é sonho (e nem é de baunilha). Quando aquela sala era meu quarto e as vozes me chamavam de noite, viver tinha uma graça diferente, porque era melhor que dormir pra ouvir os fantasmas. 

Eu sei, a inquietação do amor é o pior fantasma que existe e o medo de que ela se vá me perturba mais do que a voz de um degolado qualquer. Se ela for, quem vira degola sou eu. Não é caso de ato desesperado, é fato. Vai me levar junto aonde for e, Deus queira, que sinta o peso da minha consciência e do meu amor. Deus? Alguém, ela de preferência. Que saiba que fui também e que só deixou pra trás uma carcaça velha abandonada.  Adianta correr o mundo e levar meu coração na mala? Hein? 

Um dia vou voltar a dormir numa sala escura e a ouvir murmúrios, mas apenas se ela resolver acordar no meio da noite pra pegar um copo d'agua e nunca mais voltar. 
Esse pesadelo eu ainda não consegui dormir. Mesmo assim ele não sai de mim, dos meus labirintos. Ela, minha namorada, poderia me conhecer melhor, mas não conhece. Poderia me ter e me ver crescer no vácuo de suas mãos fechadas, mas não tem. Aí tudo vira uma história mal contada, uma seqüência de frames queimados pela ausência. Onde foi que eu me perdi? 

Provavelmente aconteceu quando respondi aquele recado. Morfeu me abandonou e me deixou assim, acordada eternamente, gravando esse típico filme pra ser esquecido no porão. Uma história difícil de relembrar daqui a alguns muitos anos. Aposto que existem mais obstáculos agora do que no futuro, porque um dia posso preencher as lacunas com invenções; neste momento tudo que está ao alcance é apenas observá-las e torcer por mim, pois essa é uma história contada a dois e isso não se modifica. 

A cadência da música na minha mente é que dita. O que? Tudo. Esse ângulo da vida é nauseante. A gente já está chegando? Ou essa luz no fim é a luz errada? É que a falta de crença nas palavras dela levou meu discernimento embora. 

Ainda preciso das suas mãos percorrendo as minhas costas, da sua boca tocando minhas leviandades, seus dentes arranhando minha pele e suas unhas fincadas na minha imaturidade. Quando ela canta então! Acerta todo o meu sofrimento autopiedoso, minhas fobias. A melodia faz o meu eu se contorcer até não poder mais se esconder de si mesmo. Logo, odeio quando ela canta. Faz eu me encontrar na sua voz gostosa e inconfundível. Não daria em outra coisa além de fúria. Desculpe, prefiro ficar assim bem longe de mim. 

Se ela pelo menos entendesse. Se concordasse em lançar aqueles olhares só pra mim, se fosse bondosa e simpática só comigo, se fosse bonita pra mim e não pra eles... se assim fosse, eu ficaria feliz. Esse caminho do querer pode parecer ruim, mas é o mais determinado. O querer vem absoluto quando se precisa possuir.

O problema é que ela não é, que ela nunca me tem e o filme fica se repetindo. Se torna difícil tocá-la, senti-la, alcançá-la. Onde foi que eu te encontrei? E onde eu te perdi? Me diz, quando foi que eu acordei?