Thursday, October 29, 2009

Aquela música não pára. A voz canta tudo que ela quer no ritmo bailante. Inacreditável. É o cd certo?

The emotion it was, electric
And the stars, they all aligned
I knew I had to make my, decision
But I never made the time
No, I never made the time


Três carros vermelhos, quatro pretos, um branco, ela do outro lado da rua. Ela não é carro, tira um. Ela não é carro, então pára! Ela não é carro, respira, sabe ler, fica em pé esperando o sinal fechar, calça sapatilhas, veste jeans, blusa de algodão cru, óculos gigante, enrola uma revista na mão, o cabelo num coque mal feito, ensaia um espirro, ela avisa que não é carro.


In the dark, for a while now
I can't stay, so far
I can't stay, much longer
Riding my decision home


Difícil chegar do outro lado assim. Ela tem que dar licença, porque carro não pode ficar na calçada. Será que vou ter que levar pela mão mesmo? Ah, Brandon Flowers, por favor! Se não parar de cantar assim...In the dark, for a while now, I can't stay, so far...não vai dar. Ela olha direto, bem reto, para a frente, observa uma outra que canta baixinho aqui desse lado. O vento traz o perfume bem dos seus segredos indolentes até aqui, pra mim e pro Brandon. Se você ao menos pudesse estar perto o suficiente pra sentir.

There is a majesty at my doorstep
There is a little boy in her arms
Now we'll parade around without game plans
Obligations, or alarm


Os carros param. Eu posso passar. Aí tudo engata e olho para o céu, depois para ela. Brandon me convence e começa a sair um cantar raro de se ver:

- In the dark, for a while now...I can't stay, very far...

O silêncio. Ela leva a revista na direção da boca e antes de pensar que além de ser carro, ela engole publicações inteiras, ouço:

- I can't stay, much longer...Riding my decision home!

E corta.

Friday, September 25, 2009

Namorar me castrou.

É que em vez de ser fértil, bonito, poético e inspirador foi simplesmente...aquilo. Não me trouxe nada de poderosamente transformador. Foram só seis meses. Ou um ano e 5 meses. Tempo agora é o de menos.

Fato é que pensar em amor, paixão, casamento, filhos, casa, pensar em tudo isso que só existia em energia desconhecida, foi emburrecedor. Porque fechei os livros, larguei as aulas mais chatas e enriquecedoras, parei de escrever à mão, não soube mais o que era escrever cartas pra alguém que nunca vi, não soube mais assistir televisão, não soube mais ficar bêbada e me divertir.

Namorar me ensinou a depender de alguém, a ligar pro mesmo número toda madrugada, a saber coisas que eu não queria, me ensinou sobre a ignorância alheia, me ensinou a gastar o dinheiro que eu não tinha, me ensinou a não ter pudor. Namorar também destruiu meu vocabulário e minha mente perspicaz.

Depois de namorar, eu acendo um cigarro, ouço a música e contemplo. Porque não namorar me permite enxergar o mundo de novo, o mundo novo. Sim, senhor, eu acendo um cigarro porque namorar é rápido, voluptuoso e aquela outra coisa que eu não sei descrever. Namorar acabou com isso também.

Sem namoro, não tem cerimônia. Você ama e pronto. Ninguém te pergunta se é muito ou pouco. Ninguém te pede a terceira via do formulário. Você bebe e fala o que quiser. Disso eu senti tanta falta.

O não namoro é como um espelho. Ou melhor, é um reencontro. Depois que você se livra da alma gêmea do ano, é obrigado a conviver consigo de novo. Mesmo que não goste, seu eu estará sempre bem atrás. E o pior: às vezes os fantasmas vão bem à frente. Nesse caminho não tem desvio.

Tem namoro que só serve pra te distrair. Quando acaba você pensa “Eu de novo?!”. Até entender o que aconteceu naquele espaço de tempo em que você mesmo esteve longe, parece tarde. Aí é a parte em que acende um cigarro e toma cuidado pra não queimar os velhos papéis que vai catar pelo quarto pra tentar se refazer.

Todo fim de namoro é uma oportunidade pra se reencontrar e limpar aquele espelho velho e persistente. E de emagrecer.

Tuesday, April 21, 2009

A dureza da vida, engolida à seco, a dureza da vida. Que era isso? Não se comparava a um suco de cupuaçu bem forte, nem a nenhuma limonada suíça. A besteira que passava e ela não via, nunca via. Do alto não dava pra ver, só se ela chegasse bem na janela. Às duas da madrugada os olhos ardiam e ela não sabia o porquê de ainda não estar dormindo. E também queria saber qual o problema. Devia ser glicose.
O açúcar que embaçava a vista, trazia a fadiga e deixava tudo mais molenga. Podia ser doença, mas quem ligava? Já dizia o poeta do senso comum, da opinião pública, da indústria de consciências: a vida tinha de ser doce. Talvez com mascavo, pra ter mais graça. E nesse mais de demasiadas soluções ninguém arregalava os olhos. Abri-los era estar adormecido...e vigiado. Quem olha para o lado entende o que eu digo. Quem acorda de um pesadelo inexplicado, no escuro, atordoado, procura, não acha, entende o que eu digo.
O ar vai. E volta. O açúcar fica. O pesadelo vai. A escuridão vem. As horas seguem ligeiras.

Tuesday, April 14, 2009

Embuste - A vida dos bonecos

O refúgio dos atores e de seus bonecos está na rua 16 de novembro, no Casarão do Boneco. Um casarão antigo, aos poucos reformado, grande. O corredor longo, de janelões espaçosos, nos dá passagem para o ateliê, o escritório, os banheiros, a copa e uma porta. Depois da porta uma escada que nos leva, afinal, ao anfiteatro. Onde antigamente era a sala da casa, atualmente está o mini-museu da In Bust. São diversos tipos de bonecos, agrupados em prateleiras, suportes ou apenas no chão. O processo de confecção e elaboração é responsabilidade de Aníbal Pacha, 51 anos, único artista plástico do grupo. Sentado no ateliê abarrotado de caixas e caixas de material como tecidos, tintas, colas, papéis, ele afirma que a última palavra é sempre dele em relação aos bonecos. “Não passamos meses trabalhando em um boneco. Não temos tempo nem necessidade disso”, diz. O material que será usado na confecção varia de acordo com o texto a ser montado. Isso explica a variedade dos bonecos. Grandes, pequenos, estranhos, bizarros e engraçados, como alguns feitos com minúsculas bolinhas de papel, os seres inanimados parecem transparecer emoções reais. Tudo devido ao trabalho detalhista dos in busteiros.

Mas em seus espetáculos as estrelas não são só os olhões e os corpos de madeira. O ator que interage com o boneco é fundamental, segundo os integrantes. “Não dá pra imaginar uma montagem nossa sem um ator-manipulador”, diz Adriana Cruz. “Se tiver, não é nossa”, completa Paulo Nascimento. Esse ator coadjuvante ou tão importante quanto os bonecos para a dramaturgia de certos textos, já é inerente à pesquisa dos atores sobre teatro de bonecos. Ou com bonecos, como preferem dizer por uma questão de entendimento deles mesmos. “É com bonecos, porque é o que fazemos”, dizem.

O espetáculo “Sirênios”, criado em 2005, é um exemplo do argumento sincero dos atores. Aníbal, Adriana e Milton Aires – ator convidado e colaborador constante do grupo – dividem o palco para contar a história do peixe-boi, único herbívoro dos mamíferos aquáticos. Adaptado para proporções menores, diferente da montagem original que tinha bonecos enormes, o espetáculo intercala atuação humana com atuação ilusória dos bonecos. Graciosamente o texto flui de forma encantadora. Não só pela lenda, mas pela atmosfera lúdica do momento. Bonecos feitos de cestas e paneiros ganham vida de Itá, Itu e Ité. A água é como uma grande bandeira que tremula pela ação do ator. O artista passa de pura manipulação a caboclo ou português em questão de segundos. É a prova legítima de que o ator e boneco precisam se encontrar frente a frente. Não é que o boneco por si só não tenha graça, mas o ator completa a catarse, mostrando que isso é um espetáculo completo.

A origem de quase todos os atores é paraense, mas as histórias são diferentes. Adriana, 31 anos, carioca, mas criada no Pará, sempre acompanhava o pai nos centros comunitários, onde este dirigia peças com elenco infantil. Depois de grande, largou de ser professora para ser atriz. Aníbal, 51, veio de trabalhos com cinema, fotografia e publicidade e entrou em cena pela primeira vez com a Usina Contemporânea de Teatro nos anos 90, mesma época em que conheceu Paulo. Este por sua vez, atualmente com 40 anos, tomou gosto pelo teatro ainda moleque, quando resolveu fazer uma oficina de teatro para ver como era. Viu e nunca mais parou. Ele diz que outro fato que vivenciou e lhe encantou foi assistir a montagem de “Pluft – O fantasminha”, com o grupo original de Maria Clara Machado, no Rio de Janeiro. “Foi fantástico”, diz. A quarta integrante, Cristina, 42, foi a última a entrar. Em 2005 assumiu a produção do grupo e entrará em cena no próximo espetáculo “Catolé e Caraminguás”.

No início da carreira, sentiram o preconceito com o teatro de bonecos. Todos achavam que era um tipo menor de teatro e este foi um dos grandes estímulos para os in busteiros se fazerem respeitar. O grupo foi do primeiro passo com um espetáculo modesto chamado “Mini Minutos de Fama”, em 1996, a um grande sucesso chamado “Catalendas”, levado ao ar pela primeira vez em 1999. O programa televisivo com duração de 15 minutos, exibido na TV Cultura, em rede nacional, conta mitos, lendas e causos da cultura popular através do teatro de bonecos. O sucesso é sutil. “Nós não temos noção da dimensão disso. Só quando viajamos pra outros estados, mas ainda assim, não mensuramos o tamanho do sucesso”, diz Adriana Cruz, a atriz manipuladora da Dona Preguiça, personagem popular pela sua voz peculiar.

Uma das grandes dificuldades para se fazer teatro, segundo eles, é o público. A massa que se afastou dos teatros, massa que frequentava teatro a muitos anos atrás como se fossem clássicos da seleção brasileira de futebol hoje em dia. Aí consiste um dos principais motivos para a In Bust realizar projetos como o “Bonecos na Estrada”, que leva seus espetáculos para municípios do interior do estado. Mostrar arte para quem não tem ao alcance, de forma gratuita. Aglomerar pais e crianças ao redor de um cenário simples para assistir algo diferente. Este projeto já passou por 43 municípios e foi apresentado para cerca de 18.500 pessoas até agora.

Entre apresentações em escolas públicas, comunidades do interior, centros comunitários, festivais, Casarão, gravações do “Catalendas”, a In Bust Teatro com Bonecos é uma representante expressiva da cena artística paraense, já tão defasada de novidades que valham a pena. A In Bust não é novidade, no sentido efêmero, corriqueiro e relâmpago. Ela é realidade no sentido mais positivo. Não é produto de massa, é produto para todos. Principalmente, porque é possível.

Sunday, January 25, 2009

UNIMED SOB AUDITORIA DA ANS

Janeiro/2009

Renata Cardoso

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) solicitou ao Conselho Federal de Contabilidade o envio de um contador à Unimed Macapá. A Agência pretende fazer um levantamento financeiro, econômico e fiscal da unidade, revisando documentos que datem de 2006 a 2008. Segundo Paulo Roberto Penha Tavares, contador designado para a auditoria, o procedimento é normal. “A ANS tem realizado o mesmo levantamento em diversas operadoras de plano de saúde, em outros estados”, afirma.

O objetivo seria verificar o funcionamento destas empresas e tomar as providências devidas diante de possíveis irregularidades. De acordo com o auditor, é a primeira vez que o procedimento é feito aqui e o tempo máximo de conclusão do levantamento é de 90 dias, tendo começado no último dia 9.

De acordo com Paulo Roberto, que está fazendo o levantamento sozinho, esta ação não tem nada a ver com possíveis dívidas da Unimed. Se assim fosse, haveriam muitas formas de pagá-las, já que o governo federal oferece várias alternativas a este tipo de problema.

Segundo a presidente da Unimed Macapá, Wanda Cruz, a ANS acompanha a evolução das operadoras de acordo com os relatórios que recebe das mesmas. A diferença é que agora o levantamento é pessoal. Quando questionada sobre a possibilidade da operadora estar afogada em uma dívida milionária, Wanda explica que “Uma cooperativa tem características próprias de contribuição fiscal. Quando o valor cobrado pela União ultrapassa os aspectos específicos da cooperativa, nós recorremos judicialmente”.

Enquanto espera-se o resultado final do processo, o valor cobrado é declarado nos balanços da empresa. “O valor estimado atual é de 8 milhões, mas está muito acima do correto”, alega. Wanda acrescenta que a unidade Macapá não é a única a passar por essa situação. Cerca de dois terços do sistema Unimed estão com problemas com valores de arrecadação fiscal.

A conclusão do levantamento está prevista para o final de março.