Sunday, January 16, 2011

Eis que resolvi escrever a nossa história. Significa? Você há de saber.

Thursday, October 21, 2010

Lapsos

SEXTA-FEIRA. NOITE. RESTAURANTE.

- Eu sou como um copo de Coca-Cola.
- Sério?
- Eu poderia tentar explicar, mas..
- Tenta, por favor.
- Sou irresistível, popular, saborosa..
- Hahaha!
- O quê? É sério. Depois de "degustada", ninguém consegue viver sem mim.
- E quem não gosta de Coca?
- Vai ter câncer porque só bebeu Fanta. (risos)
(pausa)
- (risos) Não acredito que tu disseste isso.
- Nem eu. (risos)
- Eu realmente não acredito! (risos) [Tom mais baixo] Pena que eu não bebo Coca.
- O que? Não ouvi.
- Nada. Besteira.

Sunday, September 26, 2010

SEQUÊNCIA 1

1. CORREDOR/APARTAMENTO - INTERNA - DIA

Barulho do elevador se abrindo, para depois ELA surgir caminhando pelo corredor. Chega à porta do apartamento, abre, entra e segue até o quarto (janelas abertas). Larga a bolsa em cima da cama, pega um cigarro, caminha até o outro quarto (janelas abertas). Pára de frente para a janela, observa a cidade. Durante esta sequência de entrada se escuta a voz em off de uma mulher dizendo o seguinte:


Não quero mais. Não posso mais. Eu até gosto de você,
mas a gente não dá mais certo. Preciso reavaliar as coisas, preciso de 
um tempo pra pensar e preciso estar sozinha.


Assim que a voz silencia, ELA ainda observa a paisagem, mas fecha os olhos lentamente. Logo depois um contracampo num plano geral mostra ELA e a cidade no fundo.


2. QUARTO - INTERNA - DIA

ELA está deitada na cama, meio coberta. O quarto está na penumbra, mas já é manhã (cedo provavelmente). Abre os olhos sonolenta e olha para a janela. Fica com o olhar fixo, mexendo a boca, experimentando o gosto do mau hálito matinal. Depois de uns instantes imóvel, dá um suspiro e se senta. Permanece em silêncio enquanto escuta o barulho que vem lá de fora (carros, avião, etc). 

3. QUARTO - INTERNA - DIA - FLASHBACK

ELA e ELLA estão deitadas, acabaram de acordar. Se abraçam enquanto se beijam sutilmente e dão "bom dia". Planos detalhe.

4. QUARTO - INTERNA - DIA

ELA continua sentada olhando para a pouca luz que entra pela janela. As lembranças sempre lhe trazem um aperto, uma angústia daquele tipo que às vezes só o cigarro alivia.



Friday, August 20, 2010

Melhor remédio que levar o cigarro à boca e daí para um apoio, é ouvir a voz dela. Uma vez ao dia, no mínimo. Sempre foi a solução para a fadiga, para a insatisfação, para o delírio de cada hora. Porque o "beijo" dela chia de um jeito que acorda a minha preguiça. Estou completamente errada em precisar disto, eu sei, mas é que suas palavras são infalíveis e se desfazem mesmo no ar - depois explodem em mim. Então não guardo nada. 

Nisso eu desaprendi o que é certo ou relativo. Errado nunca existe no que diz respeito a nós, porque continuo cega e manca. O amor sempre me deixa assim; ele pesa. Não é doce, nem maravilhoso. É inesquecível e por isso me maltrata. Sua voz não tem só me acordado, mas me empurrado para qualquer lugar, qualquer um longe dela. Quanto mais eu sou expulsa, mais quero permanecer e solidificar. Nem ouse pensar que é outra coisa além de pura burrice. 

Ela manda sinais equívocos e pego todos como se fossem pra mim. Claro que nada é compreensível, restando apenas sentar e chorar. A redenção que procuro nas lágrimas nunca vem. Esperança é isso:  esperar ansiosamente pelo desconhecido e inexistente. 

Acendo mais um cigarro e aguardo ela encontrar o amor. Aqui. Vou esperar que ela se sente e repouse seus dramas no meu ombro, para que então eu possa abraçá-la e dizer que tudo bem, é assim que vamos ficar. 

Wednesday, August 18, 2010

A tristeza me dá saudade dos pesadelos. Desde que essa mulher chegou, a minha vida é sonho (e nem é de baunilha). Quando aquela sala era meu quarto e as vozes me chamavam de noite, viver tinha uma graça diferente, porque era melhor que dormir pra ouvir os fantasmas. 

Eu sei, a inquietação do amor é o pior fantasma que existe e o medo de que ela se vá me perturba mais do que a voz de um degolado qualquer. Se ela for, quem vira degola sou eu. Não é caso de ato desesperado, é fato. Vai me levar junto aonde for e, Deus queira, que sinta o peso da minha consciência e do meu amor. Deus? Alguém, ela de preferência. Que saiba que fui também e que só deixou pra trás uma carcaça velha abandonada.  Adianta correr o mundo e levar meu coração na mala? Hein? 

Um dia vou voltar a dormir numa sala escura e a ouvir murmúrios, mas apenas se ela resolver acordar no meio da noite pra pegar um copo d'agua e nunca mais voltar. 
Esse pesadelo eu ainda não consegui dormir. Mesmo assim ele não sai de mim, dos meus labirintos. Ela, minha namorada, poderia me conhecer melhor, mas não conhece. Poderia me ter e me ver crescer no vácuo de suas mãos fechadas, mas não tem. Aí tudo vira uma história mal contada, uma seqüência de frames queimados pela ausência. Onde foi que eu me perdi? 

Provavelmente aconteceu quando respondi aquele recado. Morfeu me abandonou e me deixou assim, acordada eternamente, gravando esse típico filme pra ser esquecido no porão. Uma história difícil de relembrar daqui a alguns muitos anos. Aposto que existem mais obstáculos agora do que no futuro, porque um dia posso preencher as lacunas com invenções; neste momento tudo que está ao alcance é apenas observá-las e torcer por mim, pois essa é uma história contada a dois e isso não se modifica. 

A cadência da música na minha mente é que dita. O que? Tudo. Esse ângulo da vida é nauseante. A gente já está chegando? Ou essa luz no fim é a luz errada? É que a falta de crença nas palavras dela levou meu discernimento embora. 

Ainda preciso das suas mãos percorrendo as minhas costas, da sua boca tocando minhas leviandades, seus dentes arranhando minha pele e suas unhas fincadas na minha imaturidade. Quando ela canta então! Acerta todo o meu sofrimento autopiedoso, minhas fobias. A melodia faz o meu eu se contorcer até não poder mais se esconder de si mesmo. Logo, odeio quando ela canta. Faz eu me encontrar na sua voz gostosa e inconfundível. Não daria em outra coisa além de fúria. Desculpe, prefiro ficar assim bem longe de mim. 

Se ela pelo menos entendesse. Se concordasse em lançar aqueles olhares só pra mim, se fosse bondosa e simpática só comigo, se fosse bonita pra mim e não pra eles... se assim fosse, eu ficaria feliz. Esse caminho do querer pode parecer ruim, mas é o mais determinado. O querer vem absoluto quando se precisa possuir.

O problema é que ela não é, que ela nunca me tem e o filme fica se repetindo. Se torna difícil tocá-la, senti-la, alcançá-la. Onde foi que eu te encontrei? E onde eu te perdi? Me diz, quando foi que eu acordei? 


Thursday, October 29, 2009

Aquela música não pára. A voz canta tudo que ela quer no ritmo bailante. Inacreditável. É o cd certo?

The emotion it was, electric
And the stars, they all aligned
I knew I had to make my, decision
But I never made the time
No, I never made the time


Três carros vermelhos, quatro pretos, um branco, ela do outro lado da rua. Ela não é carro, tira um. Ela não é carro, então pára! Ela não é carro, respira, sabe ler, fica em pé esperando o sinal fechar, calça sapatilhas, veste jeans, blusa de algodão cru, óculos gigante, enrola uma revista na mão, o cabelo num coque mal feito, ensaia um espirro, ela avisa que não é carro.


In the dark, for a while now
I can't stay, so far
I can't stay, much longer
Riding my decision home


Difícil chegar do outro lado assim. Ela tem que dar licença, porque carro não pode ficar na calçada. Será que vou ter que levar pela mão mesmo? Ah, Brandon Flowers, por favor! Se não parar de cantar assim...In the dark, for a while now, I can't stay, so far...não vai dar. Ela olha direto, bem reto, para a frente, observa uma outra que canta baixinho aqui desse lado. O vento traz o perfume bem dos seus segredos indolentes até aqui, pra mim e pro Brandon. Se você ao menos pudesse estar perto o suficiente pra sentir.

There is a majesty at my doorstep
There is a little boy in her arms
Now we'll parade around without game plans
Obligations, or alarm


Os carros param. Eu posso passar. Aí tudo engata e olho para o céu, depois para ela. Brandon me convence e começa a sair um cantar raro de se ver:

- In the dark, for a while now...I can't stay, very far...

O silêncio. Ela leva a revista na direção da boca e antes de pensar que além de ser carro, ela engole publicações inteiras, ouço:

- I can't stay, much longer...Riding my decision home!

E corta.

Friday, September 25, 2009

Namorar me castrou.

É que em vez de ser fértil, bonito, poético e inspirador foi simplesmente...aquilo. Não me trouxe nada de poderosamente transformador. Foram só seis meses. Ou um ano e 5 meses. Tempo agora é o de menos.

Fato é que pensar em amor, paixão, casamento, filhos, casa, pensar em tudo isso que só existia em energia desconhecida, foi emburrecedor. Porque fechei os livros, larguei as aulas mais chatas e enriquecedoras, parei de escrever à mão, não soube mais o que era escrever cartas pra alguém que nunca vi, não soube mais assistir televisão, não soube mais ficar bêbada e me divertir.

Namorar me ensinou a depender de alguém, a ligar pro mesmo número toda madrugada, a saber coisas que eu não queria, me ensinou sobre a ignorância alheia, me ensinou a gastar o dinheiro que eu não tinha, me ensinou a não ter pudor. Namorar também destruiu meu vocabulário e minha mente perspicaz.

Depois de namorar, eu acendo um cigarro, ouço a música e contemplo. Porque não namorar me permite enxergar o mundo de novo, o mundo novo. Sim, senhor, eu acendo um cigarro porque namorar é rápido, voluptuoso e aquela outra coisa que eu não sei descrever. Namorar acabou com isso também.

Sem namoro, não tem cerimônia. Você ama e pronto. Ninguém te pergunta se é muito ou pouco. Ninguém te pede a terceira via do formulário. Você bebe e fala o que quiser. Disso eu senti tanta falta.

O não namoro é como um espelho. Ou melhor, é um reencontro. Depois que você se livra da alma gêmea do ano, é obrigado a conviver consigo de novo. Mesmo que não goste, seu eu estará sempre bem atrás. E o pior: às vezes os fantasmas vão bem à frente. Nesse caminho não tem desvio.

Tem namoro que só serve pra te distrair. Quando acaba você pensa “Eu de novo?!”. Até entender o que aconteceu naquele espaço de tempo em que você mesmo esteve longe, parece tarde. Aí é a parte em que acende um cigarro e toma cuidado pra não queimar os velhos papéis que vai catar pelo quarto pra tentar se refazer.

Todo fim de namoro é uma oportunidade pra se reencontrar e limpar aquele espelho velho e persistente. E de emagrecer.