Thursday, March 01, 2007

Lee?

Heinrich caminhava nervoso pelo apartamento. Revirava a mesa, os armários, por entre os livros, buscava as chaves. Reluzentes, preciosas. E Lee sabia onde estavam? Não, e nem queria. Limitava-se a serrar as unhas, sentada numa das cadeiras frágeis que ele comprara no mês passado. Fingia não ver, não ouvir as reclamações desesperadas, não sentir o cheiro de suor e perfume masculino dos mais caros que ele começava a exalar. Este cheiro que lhe trazia protetor solar e correria à mente. O som dos passos, da borracha do tênis em atrito com o azulejo branco e não varrido, é que a traziam de volta para a sala calorenta.
Heinrich sempre detestara aquele descaso constante de Lee. Ela parecia nunca estar aqui, nunca se importar com nada, nunca ouvir ninguém. Onde diabos ele deixara as chaves?! Podiam estar em qualquer lugar, que nem a consciência da garota sentada em uma de suas cadeiras novas, a qual sujava o chão com o pó que fazia de suas próprias unhas. Ele tinha tanto nojo daquilo; lembrava-lhe a imundície de Gorki nos quartos dos hotéis que dividiram durante a viagem pela parte feia do país. A saída de ventilação! Será que caíram lá?
Depois de debruçar-se na janela da cozinha, o rapaz foi atender a porta mais suado ainda. Lee queria um ar-condicionado. Heinrich não imaginava que era o zelador trazendo suas chaves. Lee lembrou-se que ter um caso com o zelador não era tão vantagem assim; ele também vivia em um forno mal-arrumado. O jovem zelador explicara a Heinrich que as chaves estavam caídas no terraço, mas ele, Heinrich, nunca foi ao terraço.

1 comment:

Anonymous said...

fui eu que deixei cair...
fiquei desesperada, ainda bem que o zelador encontrou-as...
ufa!