Tuesday, April 24, 2007

Ainda me recordo de quando entrava em sua casa querendo não lhe atrapalhar. Você nunca estava à vista. Arrumando algo, de forma que eu apenas ouvia os ruídos, fingia não dar conta da minha presença, como se há uma hora já não soubesse que iria chegar. Sua expressão de surpresa e sorriso tímido de quem não queria estar desocupando armários às 15:00 de quarta-feira lembravam-me que você merecia um chocolate de maracujá. Mandava-me sair já do cômodo, oferecia-me uma cadeira plástica - porque era o que eu merecia - e olhava a bagunça cotidiana da mesa. Então, às vezes o telefone tocava e ninguém queria atender. O toque impertinente, repetitivo, chamando alguém; você levantava maçante, lazy-lazy, tirava-o do gancho e nada pronunciava para ele enquanto não terminasse a frase que começara 10 segundos antes.